terça-feira, novembro 25, 2008

Ora então metro no aeroporto

Ainda há pouco tempo ouvi uma notícia que me deixou algo perplexo: “O prolongamento de uma das linhas de metro até ao aeroporto da Portela está quase finalizado”.

Mas espera lá, há quantos anos existe o aeroporto da Portela? Há precisamente 64 anos…

E há quanto tempo existe o metro em Lisboa? Ora neste momento festeja 60 primaveras…

E não se decidiu recentemente que o novo aeroporto será construído na margem sul mais precisamente em Alcochete? Sim parece-me que sim, depois de muita polémica.

Então mas se a Portela esteve a funcionar até agora sem o metro lá chegar, porque é que agora que se decidiu encerrar o aeroporto se decidiu terminar a ligação? Não sei, provavelmente é para que tenha uns dignos últimos anos de vida, uma espécie de cuidados paliativos.

Não faz muito sentido pois não? Realmente não, mas espera esqueceste-te que estamos em Portugal...

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Curiosidade parte I

O povo português é dotado de algo insaciável, algo que não consegue controlar, e precisa desta como do ar que respira. A sua vida não faria sentido se todos os dias não a satisfizesse. Essa necessidade incontrolável, que nos caracteriza, dá pelo nome de curiosidade. Somos um povo algo metediço, o nosso nariz mete-se em tudo onde não é chamado, a coscuvilhice é o pão nosso de cada dia, não escolhe pessoas, classes, etnias.
Mas porque me julgo eu no direito de apontar esta característica ao povo em geral e não a uma classe de pessoas em particular? Realmente não sei, agora que penso nisso…porque no fundo eu não sou ninguém para classificar um povo, se me chamasse Nuno Rogeiro talvez aí sim pudesse falar sobre tudo e todos, dizer do sicrano e do beltrano o que bem me apetecer, e brincar às guerras nos estúdios da SIC com tanques e soldados para explicar às pessoas lá em casa como tudo acontece... Mas não sendo eu ninguém, também ninguém me vai ler, o que me dá alguma liberdade, e isso é bom nos tempos que correm.
Mas voltando ao cerne da questão, a realidade com que nos deparamos diariamente comprova esta característica.
Ora tracemos o cenário do acontecimento A:
O cenário é composto por uma larga rua, onde não falta o café Central, cuja dona é a Chica Maria, mãe do Julinho, o menino dos seus olhos; a mercearia da Arlete que se ajuntou ao Júlio vai "pra" mais de 10 anos e não gosta nada da sogra, que é ruim como as cobras, o talho do Júlio, aquele que veste as calças em casa da Arlete e frequenta uma casa de meninas sem a Arlete saber... e por último as senhoras de idade que se encontram todas à janela, munidas dos seus óculos de ver ao longe de modo a obter um campo de visão alargado, observando cada passo dos seus vizinhos, cada diminuta mudança neste cenário matinal que possa dar azo a um boato, a uma polémica, a uma simples coscuvilhice, algo que as delicie e fuja à rotina dos seus tempos de reformada.
No talho por entre costeletas, bifanas, tubaros e outras iguarias do género discute-se o futebol, porque o Júlio, fervoroso adepto do Glorioso, não deixa que a superioridade do seu Benfas seja posta em causa. Ameaçadoramente, de faca em punho, vocifera perante os seus clientes e adversários clubísticos, enquanto atinge as bifanas da Dona Celeste com os perdigotos lançados no calor discussão, porque com o Júlio talhante, ninguém faz farinha!!
No Café Central, Chica Maria é dona de uma posição privilegiada para observar quem no seu estabelecimento se senta, sabendo de forma exemplar a vida de cada um dos seus fregueses, mestre na arte de coscuvilhar, partilha com os fregueses as suas informações fresquinhas. Quando a conversa esmorece, coloca-se à porta do estabelecimento praguejando com a sua nora, que na sua visão, trata muito mal o seu rico filho. A clientela é constituída essencialmente por pessoas de meia idade, entre um bolinho e um cafezinho, acompanhado do copinho de água, estes seres embrenham-se na sua actividade favorita, o corte e costura, ninguém está a salvo das conversas destas senhoras, uma verdadeira “tertúlia cor de rosa” em formato local e sem o maravilhoso Cláudio Ramos (esse homem com M grande). Elas casam e descasam pessoas, elas falam daquele que traiu a outra, o filho da outra que foi apanhado com as calças na mão, enfim de tudo um pouco se fala, e mesmo quando quase nada há a dizer, elas fazem questão de acrescentar sempre mais uma acha para esta grande fogueira. Normalmente isto é tudo falado em surdina e sem referências a nomes, pois a memória já falha, portanto o senhor de nome António, é o filho daquela que era casada com o outro da oficina, e depois desta explicação tão clara, todos ficam a perceber de quem se fala. No final do dia está lançada a polémica em casa do pobre António que mal sabe da bronca que o espera com a sua mulher Judite.
Por fim a mercearia não é mais do que a continuação das conversas de café, muda o cenário, agora composto por vegetais, fruta; muda a dona do estabelecimento, Arlete de seu nome, (cuja vida se divide entre a mercearia, o talho e as discussões com a velha sogra); mas não muda o assunto, o António continua a ser falado à boca cheia, e já o boato se propagou pela restante vizinhança.
Agora traçado o cenário num próximo post, ir-vos-ei mostrar como uma mera queda de um estranho transforma a vida e faz as delícias de quem vive nesta pacata rua.

sábado, fevereiro 03, 2007

A vida e a rotina fundem-se numa só

São cinco e meia da tarde, é chegada a hora, nem mais um segundo, a pontualidade vespertina é algo extraordinário. A saída dos seus formigueiros é feita num ápice a que todos nós damos o nome de rotina. Misturam-se cheiros, cores, corpos, numa velocidade que surpreende quem assiste serenamente a este passar de rebanhos, varas, manadas que por mais diferentes que sejam umas dos outras, reúnem-se num mesmo passo acelerado conduzidos por um bastão invísivel de um pastor imaginário.
Vão em direcção a tocas habilmente esculpidas no sub solo, empurram-se, desviam-se, praguejam, mas sem nunca pararem para olhar para trás, de tão compenetrados que estão na tarefa a que se propuseram. Estão em direcção de algo que se move nas catacumbas da cidade e cujo lugar a essa hora do dia é precioso demais para se perder, o metropolitano de Lisboa.
Chegado este, os indíviduos atiram-se para as portas, na busca de um tão precioso assento, esquecem tudo aquilo que os seus pais insistentemente durante anos a fio lhes procuraram passar, a educação. Nem que para isso utilizem braços, guarda-chuvas, malas, jornais habilmente enrolados para este propósito,tudo serve para desviar quem se atravessa no seu caminho. Neste selvagem transporte em hora de ponta, assiste-se a um “salve-se quem puder”.
Os vencidos nesta dura batalha, procuram então em pé agarrar-se a umas pequenas saliências incrustadas no tecto, por último os eternos perdedores, acabam por encostar-se uns aos outros numa entreajuda de salutar e dançam ao ritmo do balanço do metro, num conjunto de passos incertos e inesperados cujo o destino muitas vezes é ver o chão mais perto, às vezes perto demais...trazendo muitas vezes atrás um passageiro incauto que se deixou agarrar por alguém em queda livre.
Entretanto estando esta discoteca com lotação esgotada, como qualquer espaço em Portugal, aplica-se o lema “cabe sempre mais um”, e isto é uma máxima que dura até ao fim da viagem, por cada estação por onde passe esta máquina da escuridão. Somam-se inúmeras pessoas que se lançam em força para a multidão que se acumula, para arranjarem um pequeno espaço onde caibam dois pés primeiramente, e depois por acréscimo o resto do corpo...Tudo isto para que se chegue a casa uns dez míseros minutos antes, é a dita rotina que muitos temem não seguir à risca, pois sem esta, o dia encontra-se arruinado...
Porém existe um eterno problema que se põe aos saudosos vencedores do dia, que se encontram bem acomodados nas cadeiras, os olhares fulminantes dos idosos... Estes senhores são temidos por todas as pessoas que se encontram sentadas, são o terror do metro. As pessoas de idade lançam olhares fulminantes por entre as rugas que lhes definem o rosto, e têm o poder de fazer sentir mal qualquer pessoa que com eles cruza o olhar,acabando por a pessoa se levantar não conseguindo enfrentar por mais tempo este poderoso olhar. A vítima acaba tristemente por entrar na dança de quem em pé se encontra e se debate com o percurso sinuoso deste transporte.
Enquanto isso, existem uns tantos sentados que comemoram esta vitória de forma bem peculiar, é o chamado sono do metropolitano, algo que tem características muito próprias: primeiramente existe um eterno abrir e fechar de olhos, numa luta titânica entre o sono e a sua vítima, depois dá-se o estado de adormecimento que é caracterizado por um abrir de boca acompanhado por vezes de fios de saliva que caiem sem aviso prévio (fenómeno estranho este de domir de boca aberta...), junta-se um rodar constante do tronco para cima dos restantes passageiros, culminando com uma cabeçada no vidro que termina com este fenómeno por momentos. Quantos de nós não assistiram a esta maravilhosa cena? Quantos de nós se desviaram da saliva, vulgo baba, de um estranho?
Por último, não poderia deixar de transparecer o meu desagrado por quem teve a brilhante ideia de colocar um dispositivo que permite apanhar rede de telemóvel no metro... Era o único sítio em que eu me abstraía de tudo isto, e a minha desculpa como a de vários portugueses para não atendermos uma dita chamada, “Estou no metro.. não te oiço... adeus...” e estava resolvido!! Hoje em dia não só não temos esta desculpa, como ouvimos diariamente as pessoas a berrar literalmente aos nossos ouvidos porque o metro faz um “pouco” de ruído, o que implica, consequentemente aumento dos décibeis... e então a conversa é a seguinte: “ATÃO TÁS BOM? NÃO ‘TOU A OUVIR, FALA MAIS ALTO!!JÁ SABIAS QUE HÁ REDE NO METRO??REDE!!NO METRO!!JÁ HÁ REDE!!PORRA...NO METRO JÁ HÁ REDE!!OK ATAO A GENTE JÁ FALA DAQUI A UM CADO...XAU...” E enquanto isto, eu ao lado desta senhora, enchiam-me de uma estrondosa chuva de perdigotos, e os meus ouvidos depois disto já não eram os mesmos...
Enfim no fundo apenas vos quero mostrar que estas viagens podem ter um certo humor, basta olharmos com outros olhos para o que à nossa volta acontece e os motivos para saírmos do metro com um sorriso na cara serão muitos, esquecendo por momentos as dolorosas condições em que muitas vezes são feitas estas viagens.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

As visitas das enviadas de Deus à nossa porta..

Amigo leitor, encontrando-me eu a desfrutar da pacatez e silêncio do meu lar, numa meditação profunda a que me proponho sempre que me encontro na comodidade do sofá, o chamado vulgo sono, eis que senão toca ferozmente e insistentemente a campainha de minha casa, interrompendo esta hora sagrada. Estranhei a hora tardia da dita visita, e talvez numa outra altura não me desse ao árduo trabalho de fazer o meu corpo movimentar-se até à porta, mas a curiosidade ganhou sobre a preguiça e apressei-me a ver quem era.
Deparo-me então com duas senhoras muito bem aperaltadas como tivessem um encontro especial, estranhei foi ser eu o escolhido... O que destoava de toda a indumentária era uma pequena pasta que cada uma trazia, acompanhada também de uma revista. Depois de observar atentamente pelo óculo da porta, decidi abri-la para desmistificar todo este cenário.
Uma delas tomou a dianteira, e perante o meu ar inquisitório apressou-se a quebrar o silêncio, “Olá sou a Isabel, e esta é a minha amiga Fernanda, como posso tratá-lo?”, eu fiquei sem saber bem o que dizer, mas como não poderia recusar tal simpatia, e como também não consigo de deixar de meter conversa com toda as pessoas que encontro, (irritante característica para quem comigo vai a algum lado) lá digo o meu nome. Ao que esta senhora com o maior sorriso do mundo me questiona,” Poderei dar-lhe uma palavrinha, mostrar-lhe um novo rumo para a sua vida?”. Mas quem era esta senhora para saber algo sobre a minha vida ao querer-lhe dar-lhe um rumo? Ela nem sabe quem eu sou?? Depois deste pensamento, o meu olhar rapidamente baixou até à pasta que ela levava e depressa caí em mim, “Porra, que abri a porta aos Jeóvas…”.
Uma dúvida no instante seguinte então assolou-me…”Como me livrar destas amorosas e crentes senhoras sem me parecer indelicado como a maior parte das pessoas são com elas? ”. Fui então salvo neste momento de silêncio gélido entre nós pela maravilhosa tecnologia que anda comigo nos bolsos, o bem dito e sagrado telemóvel… Elas vendo que se estava esgotar o seu tempo de antena com a minha pessoa, apressaram-se a passar-me uma revista para a mão, para que a visita delas não fosse em vão e despediram-se muito rapidamente, indo em direcção da próxima vítima, o meu vizinho do 3º esquerdo…
Ao fechar a porta, e depois de desligar a diária chamada da minha mãe, cuja conversa respondo apenas com um sim prolongado que se repete vezes sem conta, pois as perguntas já eu as sei de cor, debruço-me para a revista com que fui presenteado, e ao folheá-la por entre artigos como”È Deus quem causa essas coisas?”, “As refeições nos deixam mais unidos.” e ainda “O amor justifica o sexo antes do casamento?”, deparei-me com um artigo que mereceu toda a minha atenção e me meteu medo, muito medo...
O artigo iniciava-se com um testemunho de um jovem que hoje venceu um grave problema…” Comecei a me masturbar aos 8 anos. Mais tarde, aprendi o ponto de vista de Deus sobre esse assunto. Eu me sentia péssimo cada vez que tinha uma recaída. Pensava: Como Deus pode amar alguém como eu? Tinha a certeza que não passaria para o novo mundo de Deus.” , fiquei arrepiado com o problema deste jovem, algo inédito pelo que ele diz, recaía-se diversas vezes..pobre coitado.. e Deus a vê-lo lá de cima..
É então que se inicia esta pérola de artigo: “Como o Luis, você talvez se tenha tornado escravo do hábito da masturbação. Sabe que Jeová ficaria muito feliz se você resistisse a esse forte hábito, e exercesse auto domínio, um dos frutos do espírito santo de Deus.”, o problema é quando o santo rapaz faz isto não pensa em Jeová mas sim na colega de carteira do lado dele…ele não tem culpa nenhuma..é mesmo das hormonas…mas isto continua..
Um jovem de nome André fez uso da palavra e confessou a esta maravilhosa revista, “Eu me sentia um grande hipócrita Era uma luta levantar da cama e enfrentar o dia, bem como assistir às reuniões cristãs…”, o quanto todos nós homens te percebemos André..
Mas este vil acto não é assim um a forma de impureza quando comparado a coisas bem piores como é adiantado neste artigo, “Ao mesmo tempo, masturbar-se não é uma forma de crassa imoralidade, como a fornicação”, e penso que não é preciso comentar esta frase pois está tudo bem explicado…
Por último a resolução do problema!! “Com quem você deve conversar? A melhor pessoa seria alguém espiritualmente maduro, a sua mãe ou o seu pai. Pode começar a conversa dizendo:”Posso falar com você sobre um problema que me está incomodando muito?”
E, nada como uma mensagem animadora para os pecadores, de forma a todos eles não se sentirem culpados por tal ousadia e constantes recaídas: “Como o Luís e o André, você também pode encontrar ajuda para vencer este hábito. Esteja certo de que você pode vencer a batalha!!”, esta parte soou-me a anúncio publicitário da Giga Shopping.
Como estas humildes linhas anteriores pretendo demonstrar que por vezes podemos encontrar algo interessante por trás de todo este impingimento de uma religião, não seja mais um a não abrir a porta, ou a ignorar os constantes panfletos que estas senhoras insistentemente procuram dar-lhe semanalmente…Não sabe o que está a perder..

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Bravo senhores do futebol

Aproxima-te caro leitor, não te acanhes! Toma o lugar a meu lado na bancada, entra na tenda circense, senta-te comodamente para assistir a mais um espectáculo semanal; entusiasma-te enquanto te envergonhas, diverte-te enquanto te entristeces, aplaude enquanto vês espelhado o país que temos.
Semanalmente como verdadeiros artistas de circo, driblam-na sem ela se queixar, passam-na, e ela cada vez mais maltratada, pontapeiam-na, e ela sem ninguém que a defenda. Ela não é senão a língua portuguesa, e os artistas circenses que a agridem, levando-a semanalmente às urgências de um qualquer hospital, não são senão os dirigentes e praticantes do desporto dito rei, o futebol.
Diariamente o esgar de esforço nos treinos é imenso, e tudo isto, para no final da semana poderem actuar e brilhar num espectáculo memorável, transmitido para todos os cantos e recantos do nosso país, que dá pelo nome de conferência de imprensa. No entanto, por vezes antecedido de uma actuação menor que serve de preparação, que apelidada pomposamente de flash interview. A todos é dado voz para que possam dar azo à sua imaginação e ao seu dito português. Ora toma atenção caro leitor porque és tu que lhes dás ouvidos e os incentivas a este dito “nobre” mas pobre espectáculo.
Jaime Pacheco, mestre da culinária, enfeita a travessa, usa a panela de pressão, e misturando couves e batatas, tudo lá para dentro, discursa para quem o quiser ouvir, num paralelo nunca visto entre vegetais e futebol, que o jogo da semana seguinte é uma faca de dois legumes..quem fala assim não é gago, digo-vos eu!!O chefe Silva que se cuide..
Percorrendo o país semanalmente, este senhor traz a alegria a pequenos e graúdos, fazendo da imprevisibilidade do seu discurso a sua arma, alcançado quiçá, as audiências do senhor Goucha. Mestre Jaime não se inibe de dizer, e passo a citar, “sempre fui muito acarinhado pela imprensa escrita e pela imprensa falada”..
Mas Jaime não caminha sozinho neste seu jeito invejável de provocar o sorriso, mesmo ao mais carrancudo presente na sala.
Muitos são os seguidores deste indivíduo, que se digladiam entre si por um lugar no pódio na arte de driblar as palavras e ludibriar quem os ouve.
Falo-te amigo leitor de Jesus, não o menino que passou parte da sua vida nas palhas estendido ou nas palhas deitado, mas sim de outro Jesus, também um ser singular com a habilidade de transformar qualquer regra gramatical, seja ela qual for, do nosso querido e bom português. Ao ponto de o nosso estimado leitor se questionar, se não estaremos nós errados perante o talento deste Messias. Mas não se pense fácil a vida deste homem, alvo de críticas acérrimas, refuta qualquer uma, afirmando peremptoriamente, que se procuram um “bode respiratório”, ele não o é certamente. E para além disto, este senhor tem um dom, enquanto os seus colegas de trabalho são capazes de analisar a capacidade de explosão de muitos dos seus pupilos, este homem encontrou algo nunca visto e partilhou-o com todo o país, declarando que o seu jogador tinha uma grande capacidade de implosão, pasmando quem por lá se encontrava ao ouvir tão sábias palavras.
Mas perante estes jogos de palavras, todos têm o seu parecer e não se coíbem de o revelar, um grande jogador do Beira Mar,e do Casino de Lisboa nas horas vagas, Mário Jardel fez questão de deixar a sua opinião sobre estes jogos, e passo a citar, “é nestes jogos que me sobe a naftalina..”, regressando imediatamente para a roleta, que o esperava.
Mas amigo leitor errar é humano, e não podemos condenar ninguém por declarações menos felizes e foi isso que um colega de profissão, Nuno Gomes, quis transparecer no seu discurso, tentando minimizar a polémica em torno de atletas e dirigentes, “Nós somos humanos como as pessoas”, e ficou tudo dito.
Mas dos pupilos aos mestres, passando pelos digníssimos presidentes todos metem a sua colherada, nesta magnífica caldeirada, pois condimentos não lhe faltam. Assim num acto de modéstia, um senhor de bigode e cujas orelhas superam o próprio Dumbo, relativamente a este assunto foi sucinto, ou também dito pelas gentes do Norte, curto e grosso, “Não sou um super sumo nesta matéria”.
Mas nem só de comédia, é feita a vida destes pobres senhores, problemas como a pobreza em África, as doenças que por lá se propagam dizimando milhares de pessoas, é também uma preocupação para estes cultos seres. Leitor lembras-te de um senhor que chegou a presidente de uma instituição dita gloriosa, e depois se retirou para umas longas férias entre quatro paredes e ainda hoje por lá se encontra? Esse mesmo! Teve um dia a sensibilidade de falar dos problemas de um pobre país, exprimindo-se da seguinte forma, “Na Nigéria há doenças perigosas como o tifo e a Malásia”…bravo senhor presidente, bis!!
E são estes senhores que representam Portugal no Estrangeiro, que são a imagem do nosso país para muitos pelo mundo fora, Portugal é muito mais do que isto sensato leitor, põe a mão na consciência, tu como o país inteiro, que alimenta com milhões de euros estes senhores, que com o passar da idade lhes vêem crescer os números da conta bancária, o número de carros, casas, para não falar da barriga que teima em rebentar com os botões das calças, de tão grande que é.
Enquanto tu estimado leitor assistes, serenamente, a toda esta situação e vives das alegrias e tristezas que eles te proporcionam sem que a tua vida mude por isso.
E quando este entretenimento é interrompido por finais de época ou intervalos de temporada, descem os circos à cidade para que a tua vida siga sossegadamente e entretido o tempo passe, sem que a tua atenção se disperse para quem por trás de tudo isto, te mete a mão ao bolso, sem que nada faças.
E assim vai o nosso pequeno país, não só em tamanho mas em muitas outras coisas.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Gelados

"Olh'óooooooo gelaaaaado fresquiiiiiinhoo! É frut'óooo chocoláaaaaate!" é seguramente o slogan mais adequado à época em que estamos: o Verão. E qual é o produto que melhor caracteriza o Verão? O gelado, é claro! (ainda pensei na imperial, mas como este é um blog sóbrio achei por bem não introduzir elementos perturbadores)
Não querendo recuar no tempo ao ponto de encontrar o visionário que criou esta obra-prima - já que esta é também uma invenção reclamada por gregos, troianos, espartanos e, como é óbvio, chineses -, gostava apenas de partilhar convosco uma pequena teoria que desenvolvi arduamente (tão arduamente que nem conseguirão compreendê-la). Falo-vos, por isso, da Teoria da Gelataria.
A Teoria da Gelataria é o fruto de uma pesquisa exaustiva acerca dos gostos dos portugueses no que a gelados diz respeito. Incide sobretudo na atitude dos potenciais consumidores perante uma montra de gelados (aqueles com cone, copo e bolas...e todas aquelas coisas muito giras). Assim, foi-me possível dividi-los em grupos distintos:
  1. Extreminadores-Implacáveis: caracterizam-se por serem indivíduos sem qualquer tipo de comiseração pelos ditos gelados, devorando-os até ao mais ínfimo resíduo; apreciam maioritariamente o sabores a chocolate;
  2. Corleones: este tipo de indivíduos padece do síndrome da dependência. Com isto quero dizer que um consumidor do tipo Corleone não consegue satisfazer a sua necessidade (gelada) sem a ajuda de um ou mais indivíduos. Exemplos disso são as crianças, que persistem em (tentar) delegar nos pais a responsabilidade de financiar e adquirir os ditos gelados; deliciam-se com gelado de baunilha;
  3. Pestinhas: assemelham-se aos Corleones, divergindo apenas num traço da personalidade que lhes permite satisfazer a dita necessidade com maior rapidez, dado o seu elevado poder de persuasão, capaz de instigar a actos de fúria; o sabor a limão é o seu predilecto
  4. Keanu Reeves: estes são, indubitavelmente, os consumidores mais ásperos. À semelhança do actor que empresta o nome a esta categoria, os indivíduos com comportamentos deste tipo são incapazes de exprimir qualquer espécie de emotividade, sentimentos de tristeza, alegria ou até mesmo um simples sorriso. Diante de um balcão repleto de gelado, a sua reacção assemelha-se a esta. São, por isso, imprevisíveis e, acima de tudo, fracos consumidores; o gelado de noz é a sua cara-metade;
  5. José Sócrates: antes de prosseguir, gostaria de referir que esta categoria esteve para nem sequer existir, dadas as singularidades que estas personagens apresentam. Com isto quero dizer que nem deveriam ser considerados consumidores. A sua principal característica centra-se no sorriso que exibem, um disfarce exímio que esconde a falta de iniciativa, mais do que evidente pelo simples facto de nem sequer conseguirem optar por algum dos sabores disponíveis, delegando no(s) empregado(s) a responsabilidade de decidir. Ainda assim elegem o sabor a banana como favorito.


E vocês, em que categoria se inserem?

sexta-feira, agosto 25, 2006

Hey?

Está alguém por aí?

domingo, abril 30, 2006

Pessoa e as pessoas

Aviso-vos já que o teor deste post não justifica o relevo que lhe estou a dar. Aliás, nem sei porque escrevo isto, talvez por ter mil e uma coisas para fazer a única que me ocorre é escrever aos nossos caros leitores. No fundo, o que eu quero mesmo é contar-vos um episódio ao qual assisti ontem à noite.
Estava eu junto à Brasileira do Chiado (o café, não uma mulher da dita nacionalidade) à espera do meu companheiro de café quando, sem me aperceber completamente do sucedido, principia uma agitação anormal junto da estátua de Fernando Pessoa. Não sei bem porquê, mas o que é certo é que se criou uma espécie de efeito "bola de neve" e o que começou com uma brincadeira de uma criancinha tornou-se uma corrente de estupidez, apenas ultrapassável pelo cordão humano que se criou no Euro'2oo4 (neste caso não pela estupidez, mas pela dimensão).
Passo a explicar: num primeiro momento, os habituais flashes que os "cámones" costumam disparar contra este nosso símbolo nacional deram lugar a ataques algo impertinentes de duas criancinhas que o rodearam. Palmadas no chapéu (para confirmar se era mesmo de bronze e, por conseguinte, duro), carícias na mão (gelada, por sinal) e outros gestos menos próprios para a situação em causa foram apenas alguns dos exemplos do que o povo "tuga" é capaz de fazer ao grande Pessoa.
Às pequenotas sucederam duas chicas castellanas, muito alegres, que por pouco não encheram de beijos a obra do Mestre Lagoa Henriques. Finda a histeria, foi a vez de uma típica família nuclear invadir aquele espaço para 'roubar' ao nosso amigo mais uma(s) fotografia(s).
Entretanto, o meu compincha chegou e, num acto pecador, virei costas a Pessoa e sentei-me na esplanada para apreciar o café e os vários dedos de conversa que fluiram noite dentro.

Peço desde já a quem eventualmente possa vir a pensar erguer uma estátua em minha homenagem que opte por uma destas duas soluções:
  1. Simplesmente não o façam! Poupam o vosso tempo e a vossa dedicação e evitam que o meu descanso eterno seja perturbado por criaturas inferiores
  2. Se estiverem mesmo decididos em fazê-lo, sigam exemplos como a estátua do Marquês de Pombal, que, regra geral, só é incomodada quando Benfica ou Sporting comemoram um título, coisa que feliz e infelizmente (pela ordem referida) não sucede com tanta frequência como seria de esperar à partida, dada a sua altitude. Por isso, edifiquem-na bem lá no alto!

Obrigado pela atenção (e, se possível, pela estátua).

P.S. - Afinal o teor do post vale mesmo a pena...

terça-feira, abril 11, 2006

Back!

Senhoras e senhores... É com prazer que anuncio que a nova geração está absolutamente de volta. Antes de mais dedico esta pequena divagação a uma querida amiga nossa que fez anos ontem: Carina, mais uma vez muitos parabéns!

No outro dia estava a jantar no colombo, com uns quantos amigos, (entre os quais o meu colega colaborador Mike) quando me voltei a deparar com uma dúvida existencial recorrente ao ir pedir um hamburger ao Mcdonald's: os pickles.
Não me levem a mal, isto não foi algo que me surgiu de repente. Eu e os pickles sempre tivémos um certo mau clima entre nós.
Nunca gostei deles, nunca gostarei!

Aliás, para ser franco, demorei imenso a conseguir perceber exactamente o que eles eram quando eu era mais novo. Primeiro tinha a ideia de que era o nome do vegetal verde parecido com o pepino e que tinha de ser conservado num jarro cheio de um liquido francamente estranho por alguma razão divina; mais tarde como nesses frascos também havia cenouras e couve flor fiquei mais confuso. Acabei por adoptar ao termo pickles a seguinte definição: vegetal que por alguma razão obscura foi dessecrado ao ponto de perder todo o seu sabor original, tendo sempre o mesmo sabor, não interessa qual a sua família.

Voltando ao que interessa, pickles nos hamburgers!
Para mim é um mistério o porquê das grandes companhias terem decidido ser uma óptima ideia tornar os pickles num elemento base de um hamburger, não faz absolutamente sentido nenhum!
Um hamburger é um bocado de carne. Um hamburger vendido como fast food é geralmente um bocado de carne entre duas fatias de pão. Passar desse ponto a colocar também um temperozinho é um passo lógico. Daí podemos explorar várias nuances sobre a forma de diferentes tipos de hamburger: hamburger com queijo, com bacon, com alface e tomate, com tudo o que se possa imaginar. Mas o ponto fulcral é que fora aqueles elementos básicos, é o público que escolhe o tipo de hamburger que quer.
Menos os pickles! Esses estão em todos os hambugers. E o mais cómico é que pelo menos 60% da população odeia-os!
Decididamente a alguma altura na evolução natural das cadeias de fast-food, algo correu extremamente mal...

Numa notícia completamente não relacionada com a primeira, ando a pensar em criar uma daquelas linhas para que o público que vê televisão possa telefonar, pagando uma módica quantia. A minha ideia era fazer algo seguindo esta linha de pensamento:

Nós no "Só lês se quiseres" achamos que as pessoas são tão estúpidas que nos deviam pagar para ouvirmos as suas opiniões. Não concorda? Então ligue para o 800-696969 e diga-nos o que pensa! (2€ a chamada)"

Creio que vai funcionar. Não concordam? Deixem o vosso reply e digam-me o que pensam! (grátis, por agora...)

E o mundo inteiro cairá aos nossos pés.

segunda-feira, abril 10, 2006

As nossas desculpas

Pedimos sinceras e sentidas desculpas pela nossa ausência, mas tem sido de todo impossível para nós actualizar este espaço. Andamos fugidos da PJ e da AFP (Associação Fonográfica Portuguesa), a propósito dos downloads ilegais de música. Encontramo-nos, por isso, fora do país, mais propriamente num sítio onde o sol não brilha. Contudo, nem todas as notícias são más. Tenho ali uma lista de músicas novas que acabei de 'sacar'. Se estiverem interessados digam qualquer coisa...









...mas cuidado, eles "andem" aí...

quarta-feira, março 15, 2006

Ai estão a dar?Adonde?

No meio do imenso mar de palavras existentes, algumas despertam em nós diversos sentimentos, sensações, espontaneidade, uma espécie de clique que nos desperta do estado de adormecimento mental em que muitas vezes nos encontramos. No entanto existem algumas palavras mais consensuais que causam um sentimento comum por quem as ouve, despertando por vezes os instintos mais selvagens e inactos que dentro de nós existem.. A palavra "grátis", "à pala", "à borla" é uma dessas. Basta alguém entoar por muito baixo que seja a palavra grátis que se acende o rastilho e tudo acorre em euforia e profunda loucura em busca do brinde, esquece-se o politicamente corrrecto, as aparências e saltamos, empurramos, debatemo-nos com os outros "concorrentes", qual mini-maratona de lisboa, para no fim podermos ostentar com orgulho o nosso prémio e podermos passar pelos outros que chegaram tardiamente e sorrirmos pensando para nós "tivesses chegado mais cedo e tinhas uma caneta de plástico como a minha..azar o teu!". Este acontecimento atinge o seu auge nas campanhas eleitorais, porque segundo a lei económica por mim estudada, quando a oferta de produtos é maior a um preço baixo ( grátis diga-se..), a procura aumenta na mesma proporção. Se houvesse uma caderneta com os cromos dos candidatos às presidenciais acredito que houvesse muito boa gente com a colecção toda, desde que estes sejam dados , gritam por qualquer um que passe à sua porta..
Mas a decisão de escrever sobre este assunto deu-se porque me vi envolvido em tal situação. Tendo eu que distribuir livros, marcadores e tshirts depois de um concerto, pensei que tudo iria decorrer na maior normalidade e as pessoas iriam ser educadas na forma como pediriam os brindes e aguardariam se assim fosse preciso, uma vez que eramos poucos parar distribuir a tanta gente.. Mas depois percebi que não existe normalidade nessas coisas, as pessoas transformam-se e passam por situações ridículas sem se aperceberem. Havia uns que depois de lá terem ido uma vez, voltavam mas agora mais discretos, com a mão à frente da cara com medo que eu os reconhecesse para poderem dizer aos amigos que conseguiram levar 2as tshirts..Por outro lado bastou-me pousar o porta chaves no chão com as minhas chaves de casa para que alguém agarrasse nele e outra perguntasse se estavam a dar porta chaves, tive que agarrar na menina antes que ela se fosse embora, explicando-lhe que assim não tinha como entrar em casa. O pior aconteceu quando os brindes se começaram a esgotar.. as pessoas aí apertaram o cerco e entre senhores de gravata, imigrantes, miúdos mais pequenos deixou de existir qualquer diferença, só se preocupavam em tentar-me arrancar das mãos as últimas tshirts e cada um puxava para seu lado... Posso admitir que pressenti o medo, não sabia como lhes dizer que já não havia mais...Podia ser eu o próximo alvo da loucura deles? Não o sabia bem.. Mas enfim de seguida fui salvo pela banca da água das pedras que também entoava a palavra "grátis". A teoria de Pavlov não pode ser mais actual..E assim se sobrevive neste selvagem mundo..

sábado, março 04, 2006

Bidés ou bidets, para os mais finos

Em primeiro lugar, perdoem-me a mim e aos meus parceiros o longo interregno, mas a vida de estudante impõe certas condicionantes difíceis de ultrapassar (leia-se, exames e frequências). E como tal, sendo nós uns estudantes exemplares (?), passámos por um fase introspectiva de afirmação cognitiva. Sem grandes resultados práticos, diga-se já, mas com uma certeza: ignorantes não somos!


Há, de facto, um objecto (ou instrumento, ou o que lhe quiserem chamar) que me intriga profundamente: o bidé. Sempre foi um elemento presente na minha casa-de-banho (e presumo que também o tenha sido na de todos vocês), mas nunca me dignei a tentar descortinar a sua utilidade. Ora, se a banheira serve para tomar banho e a sanita (ou retrete, se preferirem) se destina a depositar tudo o que está a mais no nosso corpo, para que servirá realmente o bidé?
Sim, eu usei-o quando era mais pequeno. Para pequenas lavagens ou por simples diversão. Mas calma! Em que pensou quem inventou isto, hein Mr. Bidet? Dou voltas e voltas à minha mente e não consigo encontrar nenhuma explicação minimamente plausível. A não ser que me reporte (com todo o respeito) aos velhinhos que já não se conseguem aguentar "nas canetas" dentro da banheira e preferem a segurança espacial daquele recanto. E cada vez que penso mais sobriamente nisso, apercebo-me que esse deve ser o único aspecto verdadeiramente positivo d'um bidé. Não é que eu tenha alguma coisa contra o objecto, mas a sua não-existência também não deixaria qualquer saudade, pelo menos para mim.

E agora, que já atormentei o vosso dia, calo-me por mais uns tempos.


Hasta la vista, bidé!

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Sociedade secreta de alguma idade


Acordam quando o sol ainda boceja. Começa aí mais uma jornada de preparação para a secreta reunião que se dá num recôndito mercado da grande lisboa. Os membros desta comunidade começam por retirar os seus belos fatos guardados para ocasiões especiais cujo cheiro a naftalina se encontra entranhado, mas nada como o disfarçar com uma água de colónia comprada nos saldos do recente Verão de 1940. Colocam a fatiota toda janota em cima da cama e desajeitadamente, devido ao reumático que já se faz sentir, vão em busca dos sapatos que completam o estilo de galã. Uma engraxadela até brilhar, e ganham de novo vida para mais uma reunião. De seguida procuram cortar os teimosos pêlos que crescem nas orelhas, fenómeno imcompreensível da natureza, procuram as meias com menos buracos, colocam os seus melhores dentes e enceram a careca que ostentam como sinal de orgulho. Uns passos em frente do espelho para nao perder a forma, bengala na mão e boína na cabeça e estão prontos para mais uma bela tarde.Perguntam vocês aonde eles se dirigem? Hoje é dia de mais uma reunião da terceira idade. A sala onde se reúnem dá pelo nome de mercado da ribeira, onde a entrada só é permitida a homens de barba rija e a mulheres maduras. A música já se ouve bem cá do meio da rua entoada por mais um conjunto de "qualidade duvidosa" que desafinadamente faz as delícias dos membros desta sociedade, prevendo-se mais uma tarde bem movimentada. Lá dentro podemos distinguir as diversas espécies que compõem esta sociedade:por um lado temos os mirones que encostados ao balcão, trazendo previamente de casa os seus óculos de ver ao longe, observam as senhoras que vagarosamente se movimentam por aquela sala ao som de música dita "popular portuguesa"; depois temos umas cadeiras onde os mais tímidos se sentam e se embrenham em complexos pensamentos "será que a convido para um pezinho de dança? e se ela depois repara que eu sou coxo e nao quer nada comigo..é melhor não ir.."; e por último os galãs que disputam as senhoras entre si, dançando pela sala, qual ritual de acasalamento, levando-as a soltar largos suspiros, enquanto estes se degladiam em ferverosos duelos onde a bengala é lei. Cá fora dois seguranças vigiam a entrada, não a permitindo às crianças menores de 60 anos, que não estão preparadas para um evento tão grandioso como este. No fim da tarde tudo acaba, entre caras tristes pelas derrotas nos duelos e por mais uma tarde de pouca sorte, e outras mais risonhas pelas recentes conquistas e pela sorte os ter bafejado, voltam às suas casas e ao sofá que os espera de braços abertos, indo a pensar em novos piropos e técnicas para o dia seguinte.. E assim é o dia-a-dia no seio desta comunidade secreta, em que se revivem os velhos tempos e se recupera a alegria de viver.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Um pacote de batata frita

Já alguma vez, assim por acaso, num período "morto" da vossa existência, pararam para pensar como se desenrola a "vida" (?) de um pacote de batata frita? É algo que nos pode encher de compaixão, de ternura e até mesmo fazer-nos desistir de atacar de forma selvagem tão delicioso repasto.
Tudo começa com o cultivo: o deitar das sementes na terra; o tratamento cuidado para que todo o processo corra da melhor forma; até que o produto começa a surgir, forte e viçoso, preprando-se para o seu destino cruel. Dá-se a colheita e as batatas seguem para o complexo industrial onde serão impiedosamente descascadas, cortadas, entre outras torturas que até tenho pena de referir...
Entretanto submetem-nas ao terror: a fritura em óleo. Aquele óleo viscoso, sujo, imundo, mas que para o banal ser humano é algo de mítico. São empacotadas sem qualquer misericórdia e seguem para o posto de venda: um qualquer supermercado, área de serviço ou outro qualquer estabelecimento por esse mundo fora.
É aí, então, que se dá o momento crítico. Elas sabem, dentro do seu ilustre pacote, que a sua vida irá ter uma curta duração. Se não sabem, pelo menos desconfiam... (espero eu, coitadas!) A qualquer momento poderá chegar um indivíduo com uma fome insaciável e definir o destino final das nossas amigas: um estômago medonho, mas não sem antes, como é óbvio, serem torturadas (mais uma vez!) por dentes mal lavados, cheios de escorbuto ou outra peste perigosa. Findo o processo de deglutição, a casa que acolheu estas nossas amigas nos curtos instantes da sua vida - o pacote - é largado a céu aberto, sem comiserações nem sentimentos de culpa. Depois o transeunte assiste à poluição ambiental, visível aos olhos de todos.
Peço desculpa por esta tortura visual em forma de post, mas apoderou-se de mim uma compaixão pela "vida" destes "seres" e das suas respectivas "habitações". Aproveitem e percebam o que uma espera de 15 minutos pelo comboio pode provocar nas pessoas. Bastou-me ver um pacote a esvoaçar pela linha e deu nisto...
Batam-me, esfolem-me, mas deixem-me vivo, se faz favor.

A Gerência agradece.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Condecorações, distinções e afins

Nos últimos dias tem-se registado - numa semelhança ao famoso baby boom - uma explosão do número de condecorados pelo Presidente da República. Eu próprio, que até o tenho em boa conta, encaro esta situação com algum espanto (ou nem tanto).
José Mourinho, Belmiro de Azevedo e Bill Gates foram apenas alguns dos nomes que Jorge Sampaio teve todo o prazer em distinguir. Confesso ainda alguma (muita, no caso de Bill Gates) admiração pelo trabalho desenvolvido em cada uma das áreas correspondentes, mas não exageremos! A propósito desta onda condecorativa, um comentador da RTP - cujo nome não me recordo - manifestou-se da seguinte forma: "Isto acaba até por ser uma desvalorização das poucas personalidades que realmente merecem estas distinções, como Bill Gates, visto que nos últimos dias qualquer pessoa que esteja num raio de 1km do Palácio de Belém é automaticamente "sugada" para ser premiada". E digo eu que a imagem até é relativamente interessante.
Entretanto, e seguindo o tom contestatário que pretendo neste post, tenho-vos a dizer que já pedi que retirassem o meu nome da lista dos condecorados. Porque raio hei-de estar junto do Zé do Talho ou do Manel dos Telemóveis? Naaaa, muito baixo para mim! Sugiro-vos que façam o mesmo e evitem a propagação desta peste conhecida como "febre-condecora-tudo-e-todos-no-final-do-mandato": é uma doença perigosa e transmite-se de presidente para presidente através da cadeira de Chefe de Estado.
A solução passa simplesmente por enviarem um email à Presidência da República requerindo a vossa exclusao da pretensa lista de galardoados. Não esquecer, no entanto, a obrigatoriedade de não circular num raio inferior a 2km do Palácio de Belém, pois qualquer tipo de aproximação do edifício pode anular o efeito do email.

Ok, eu estou doente e isto pode parecer tudo muito surreal. Posso até estar a exagerar, mas se olharmos com atenção para este fenómeno veremos que o caso é bem mais bicudo do que parece. Daqui a pouco tempo o posto mudará de dono mas a história será a mesma, pelo menos no que concerne esta fantochada das condecorações. Só não consigo imaginar o Cavaco Silva a receber o Bill Gates no Palácio de Belém. Ou melhor...não consigo imaginar o Bill Gates a perceber uma única palavra do que diz o Cavaco sem um intérprete, mas pronto...

segunda-feira, janeiro 23, 2006

A idade não perdoa..



No seguimento da crítica social que tem sido feita pelo meu caro e distinto colega Catalão, lembrei-me de abordar um assunto que me fascina, com o qual me deparo diariamente e me provoca algum medo,confesso..Surgem em qualquer paragem de autocarro,estação de metro ou qualquer outro meio de transporte colectivo.Por vezes formam gangs que se intitulam "Turismo sénior do Inatel".. no seu passo vagaroso invadem praias, hotéis, cafés e todo um conjunto de estabelecimentos comerciais e assustam as pessoas empunhando fortes bengalas, canadianas e afins, encontrando-se também munidos de dentes móveis que saltam quando menos se espera sem uma direcção definida..Por outro lado no seu dia-a-dia normal são responsáveis por um conjunto de estranhas situações que observo e tornam a minha viagem nos autocarros bem mais alegre e agitada.Passarei então a enumerar algumas dessas peripécias:
Nunca consegui perceber o facto de as pessoas de idade serem sempre as primeiras a protestar junto do motorista, (mesmo que ele seja ucraniano e nao perceba nada..) se o "Bus" chega 5 minutos atrasado..gesticulam fortemente acompanhando os gestos com expressões de indignação fazendo realçar as rugas acumuladas e levantam a voz para fazerem chegar a sua indignação ao banco mais longínquo ( se bem que no banco mais longínquo está normalmente um dread sentado com os phones em volume máximo curtindo um kizomba, alheado da cena que se vive..). Tudo isto porquê?Será que perder 5 minutos do "Portugal no coração" é assim tão grave??Não consigo perceber..

Por outro lado, uma coisa que sempre me intrigou foi uma senhora de idade que todos os dias apanhava o mesmo autocarro com a indicaçao de "210 Caneças", e todos os dias perguntava ao motorista se o autocarro ia para Caneças..todos os dias, à mesma hora, no mesmo local, lá estava a senhora a fazer a mesma pergunta e o motorista com a paciência do costume respondia que sim..eu se fosse motorista,ao fim de uma semana desta situação teria que responder desta forma à cara senhora que tão "amavelmente" fazia a pergunta: "Não,o autocarro diz 210 Caneças mas é só para enganar..shiiuu,mas nao diga a ninguém.."

Mas no fundo tenho a dizer que os ditos "velhos" são bem lá no fundo pessoas amáveis,generosas( a minha avó pelo menos sempre foi comigo,gomas,bolos..deus a abençoe..) com quem temos muito a aprender..E por outro lado o que critico agora poderá ser aquilo em que me vou tornar daqui a uns anos quem sabe..pelo menos a bóina e os dentes amovíveis vou usar de certeza..

Por outro lado assistimos a outra loucura semanal a que se dá o nome de "Euro Milhões", deixo aui para terminar uma foto que testemunha o desespero de dois jovens por mais uma semana de Jackpot acumulado.. A esses dois jovens desejo-lhes melhor sorte para a semana..

sábado, janeiro 21, 2006

Ratinhos de Biblioteca

Sendo eu um potencial crítico desta sociedade, não poderia deixar escapar a hipótese de escarnecer uma epidemia que prolifera um pouco por todo o mundo: os ratinhos de biblioteca.
Não, não me refiro a uma espécie nova de roedores que decidiu atacar o nosso singelo planeta. Com esses podemos nós bem. Falo-vos, pois, de outro tipo de roedores. Quem conhece o termo sabe ao que me refiro. Estes, ao invés de pedaços de queijo e outros pequenos alimentos, devoram apontamentos, livros com uma média de 2000 páginas, enciclopédias, dicionários, etc. E porquê? Ok, é importante um pouco de dedicação à escola, à faculdade, whatever...mas não exageremos, por favor!
A parte interessante na análise desta espécie prende-se com a interacção dos seus membros. Desconhecendo a maioria das práticas comunicativas, estes seres tendem a estabelecer relações intersubjectivas através de certos processos fisiológicos como: espumar intensamente da boca após 3291023 horas seguidas a estudar palavras do dicionário, balançar violamente o corpo para a frente e para trás, adquirir uma postura atarracada que lhes permita abranger o maior número de livros possível, entre outros comportamentos desviantes.
Entre os seus habitats naturais destacam-se as primeiras filas das salas de aula deste Portugal e as bibliotecas (especialmente as que possuem artigos sobre a reprodução do nosso grande amigo mamute de tromba roxa). Interessam-se pelas novas técnicas de permanecer acordado durante 3 dias seguidos - extremamente úteis em épocas de grande stress estudantil - bem como pela vida sexual dos mosquitos autistas.
Exemplo prático: um espécime do sexo feminino, rondando os 18 anos, entrou numa sala de aula com um atraso de 30 minutos. Bateu atenciosamente à porta, espreitou para dentro da sala e entrou pé ante pé. Dirigiu-se ao professor universitário, pediu 321982398013 vezes desculpa pelo atraso e acrescentou: "peço imensa desculpa, mas vou ter de sair 5 minutos mais cedo da aula, pois tenho de saciar a minha necessidade de devorar livros incessantemente". O professor acenou, espantado com a situação. Minutos antes de acabar a aula, este espécime, que se tinha sentado na fila da frente e permanecido imóvel durante 1 hora e 32 segundos, chamou o professor e avisou que se iria retirar. Saíu, deixando um rasto de preocupação entre os que restaram...
Tenham cuidado! Eles andam aí e são perigosos...

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Solidão

Os seres humanos são das criaturas mais maravilhosas que se podem encontrar no universo. Não são provavelmente as mais fortes, e muito menos as mais inteligentes... Não serão também as mais rápidas ou ágeis nem as mais sexualmente aptas. Contudo, existem ainda certas características que lhes são inerentes a eles e apenas a eles.
A primeira é o sarcasmo. Num universo infinito (e para quem não sabe o quão grande infinito é basta dizer-vos que é maior do que qualquer tamanho que vocês imaginem...) eles são os únicos a possuir a capacidade de utilizar sarcasmo em qualquer situação e, consequentemente, entendê-lo. Muitos já tentaram perceber onde é que exactamente essa característica os vai ajudar a desenvolverem-se enquanto raça. Até agora nada se descobriu. Contudo, convém dizer que, mesmo que servindo para mais nada, o sarcasmo dá estilo. E num universo gigantesco, o estilo conta!
A segunda é o hábito que os seres humanos têm de constatar continua e repetidamente tudo o que há de mais óbvio, como "está um dia lindo", "És muito alto", "Pareces ter dormido pouco!", "Oh meu Deus, acabaste de cair para dentro de um poço de trinta metros! Estás bem?"
Já se formaram teorias ácerca de tal comportamento disfuncional. A primeira teoria a que se chegou é que se os seres humanos não exercitarem continuamente os seus lábios, as suas bocas acabam por desaparecer.
Após alguns meses de observação e consideração, abandonou-se essa teoria por uma nova. Se os seres humanos não exercitarem continuamente os lábios, os seus cérebros começam a funcionar.
No nosso caso isso seria um desastre.
O que tem isto tudo a ver com a solidão, perguntarão? Nada, para falar a verdade. Ou melhor, os seres humanos têm, mas o resto surgiu espontaneamente como se o teclado, com vontade própria decidisse tomar em suas mãos o destino deste texto, e, sem o inocente escritor sequer reparar, ao fim de cinquenta linhas de texto, nem uma palavra fala do assunto que ele inicialmente desejara escrever.
Muitos de vocês chamar-me-ão estranho, ou maluco, ou até mesmo loiro, confirmando assim, claro, a predisposição do ser humano para afirmar o óbvio. Outros dirão que este blog é a melhor coisa que surgiu na vossa vida durante os últimos anos, confirmando obviamente a tendência do ser humano para o sarcasmo. No entanto, a única verdade e conclusão que provavelmente poderemos tirar daqui, é que deveremos sempre ter de ter muito cuidado com o tipo de teclado que compramos ao encomendar um novo computador. Um ecrã apenas muda a maneira como vemos os dados, um teclado altera a maneira como os passamos.
Cumprimentos,
Cynath

Ps: No meu próximo post abordarei então o que tinha a dizer sobre a solidão.

terça-feira, janeiro 17, 2006

"Estou? Sim? Ahhhhhh Maria!"

Feitas as apresentações, é hora de deitar mãos à obra e mexer os cordelinhos. Se me permitem debruçar-me-ei sobre dois tipos de flagelo que persistem nos dias de hoje, sobretudo em locais públicos altamente frequentados ou esquinas de ruas.

O primeiro fenómeno é de fácil identificação. Quem é que nunca se deparou com um indivíduo (o sexo é indiferente) em pleno comboio ou autocarro a narrar toda a sua vida ao telefone? Passo a exemplificar:

- Estou? Sim? Ahhhhhhhhhhhhhh Maria! Sabias que ontem tive uma noite escaldante com o Gervásio? Opa, nem te sei explicar...foi algo de memorável!
(ouvem-se uns murmúrios vindos do lado de lá da linha...de seguida esta nobre personagem continua a sua narrativa amorosa)
- Aiiiiii nem sabes! Não me sentia assim desde o Ambrósio!! Aquele homem era fabuloso, mas este supera-o!!
(a conversa continua...eu tento desligar, mas é impossível! Qualquer palavra entoada por aquele espécime espalha-se por toda a carruagem num volume incontrolável...)

Eu confesso. É um ódio de estimação meu. Mas porque carga d'água tenho eu de saber as aventuras passionais desta sujeita enquanto leio descansadamente o jornal? Será que isso lhe dá prazer? Eu juro que tento, mas não consigo compreender. E se fosse dialogar com a poia de que o Cynath fala no blog dele? Concerteza teria uma resposta bem mais interessante...
O telemóvel foi a maior invenção dos últimos anos - depois deste blog, como é óbvio - mas não deveria ser permitido a estes seres o acesso a tão poderoso instrumento. Acho que a relação que ali se estabelece durante uma chamada como aquela chega a ser mais intensa que o próprio acontecimento que a pessoa em causa descreve efusivamente.
Até mesmo um discurso com 198238912 horas do MP3 aka Super Mário seria mais facilmente suportável do que esta "sinfonia" desafinada...

O outro acontecimento absolutamente irritante com o qual me deparo diariamente resume-se à actividade praticada pelas domésticas da minha rua (e, por conseguinte, de todas as ruas deste nosso Portugal), isto sem qualquer desrespeito pela profissão exercida. Corte e costura metafórico, autênticas parábolas em redor do intímo de cada habitante dos arredores. A ilustração mais perfeita deste acontecimento seria vê-las junto à esquina, de bloco de notas na mão, a apontar todas as ocorrências do dia, qual Big Brother...

Ainda há duas horas atrás, quando regressava a casa, quase esbarro numa reunião da Associação das Domésticas Cuscas. A ordem do dia singia-se à Manela da Sapataria que tinha sido vista a abraçar o Zé do Talho. Cordial como sempre, pedi imensa desculpa por interromper tal tertúlia, riquíssima em conhecimento, e segui despreocupadamente o meu caminho, grato por não ter nascido com esse "dom".
Para esses seres aqui fica o seguinte carimbo:


Alguém os/as perdoe...eles não sabem o que fazem..!

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Inauguração das postas de pescada

Hoje começa uma nova aventura neste mundo surreal. Um círculo restrito de individualidades, ou melhor, seres de excepção, dedica-se, a partir deste momento, à revolução das mentalidades de (outros) seres menos excepcionais. Como tal, empreenderemos uma longa jornada que tentará sobreviver tantos anos quantos o nosso ilustre colega MP3 aka Super Mário.

Esperamos corresponder ou até mesmo superar as vossas expectativas (ena, ena! somos uns malucos!), em especial no que diz respeito aos nossos extensos conhecimentos acerca do sistema respiratório e urinário dos mamutes de tromba roxa. Sabemos que é difícil e que o assunto é ainda pouco divulgado, mas estamos confiantes de que seremos capazes de mundializar esta sapiência milenar. Estamos prontos a abraçar esta causa, este novo desafio que nos surge em forma de blog.

Cordiais e rascos cumprimentos,
O Patronato.

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Este espaço é da exclusiva responsabilidade (pelo menos até ao momento) dos seguintes intervenientes:

  • Mike (bubacar)
  • Catalão
  • Cynath